A
beleza das mulheres celtas foi decantada pelos autores clássicos. Seu ar
imponente, suas vestes e adereços deveriam fazer delas uma visão sem dúvida
formidável aos olhos de gregos e romanos. Orgulhosas, elas usavam jóias em
ouro, contas e pedras preciosas, e a igualdade de direitos lhes dava ainda mais
força. A sexualidade não era algo de que os celtas se envergonhassem, pelo
contrário: nas palavras de Diodorus Siculus, "elas geralmente cedem sua virgindade a outros e isto não é visto como
uma desgraça: pelo contrário, elas se sentem ofendidas quando seus favores são
recusados". Jean Markale em seu livro La Femme Celte. Mythe et
Sociologienos explica que a sexualidade – principalmente a feminina -, era
tratada com naturalidade, pois ela é inerente a natureza humana e não podia ser
reprimida o que infelizmente, a partir do século V com a chegada do bispo
Patrício e do cristianismo passou a receber a conotação pecaminosa, conceito
imposto pelo cristianismo. Numa sociedade onde a mulher é senhora de seu
próprio corpo – ela percebe em si os ciclos da natureza, ela dá à luz homens e
mulheres e, sabe que o seu corpo é a fonte de seu prazer como a de seu
companheiro. Há um grau de liberdade muito grande entre os celtas, já que a
mulher pode dispor de seus bens, pode divorciar-se e pode ou não aceitar as
concubinas do marido, podendo ela também – dependendo de sua riqueza e posição
social manter amantes.
Na
sociedade Celta, são atribuídas à mulher três funções: ela é a Transformadora,
a Iniciadora e a Finalizadora. É pela liberdade de poder vivenciar a sua
sexualidade que ela pode: Transformar: a vida, dando à luz e dando prazer a si
e ao seu companheiro; Iniciar: nas artes divinatórias, nas práticas sexuais e
por fim ser a Finalizadora: a que faz chegar ao prazer e a que conduz ao outro
mundo. A consciência do próprio corpo – o conhecimento profundo de cada parte,
de cada ciclo, de cada ponto onde se pode obter prazer – era comum entre as
mulheres celtas que quando sentiam desejo por um homem, lhe ofereciam
prazerosamente, a "amizade de suas
coxas". Mas toda essa liberdade para amarem e viverem em plenitude a
sua sexualidade advém de uma consciência e uma responsabilidade para consigo e
para com os outros membros de sua comunidade, o que contrasta com a repressão
vivida pelas mulheres ocidentais hoje. A circularidade e visibilidade da mulher
na sociedade celta eram naturais o que provavelmente chocou os cristãos que
trataram de impor os seus conceitos: virgindade indispensável e repressão dos
desejos e instintos sexuais femininos. Toda essa vivência é definida por
Markale que resume e define a mulher celta e a sua sexualidade desta forma: "Se a mulher ocidental moderna não é
livre, Isolda, Grainné e Deirdré eram mulheres livres. A mulher celta era livre
porque agia com plena consciência de suas responsabilidades. E sendo livres
eram capazes de amar, pois o amor era um sentimento que escapava a todas as
contrariedades e a todas as leis surgidas da razão, sendo livres podiam
amar." E quando uma nobre romana, não acostumada com a liberdade e a
força do caráter das mulheres celtas questionou a integridade moral de uma
delas, ouviu a acachapante resposta: "nós
mulheres celtas atendemos as exigências da natureza com muito mais dignidade do
que vocês, romanas: pois enquanto nós copulamos abertamente com nossos melhores
homens, vocês secretamente se sujeitam aos mais vis."
(Fonte:
O Mundo da Harpa Sagrada)
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