A Irlanda é um dos países com a literatura mais expressiva do mundo, o que é surpreendente para uma nação pobre para os padrões europeus e distante dos demais países do continente tanto do ponto de vista geográfico --por ser uma ilha-- quanto cultural --por não ter sido tão influenciada pelo avanço romano.
"A Irlanda é um país que sempre teve muito forte a influência da tradição celta de contar histórias oralmente", conta John Milton, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. "Além disso, na Idade Média, a Irlanda se tornou um grande depósito de conhecimento devido aos mosteiros medievais construídos no país". O motivo da riqueza literária irlandesa é uma pergunta que se faz frequentemente", disse a professora da USP Munira Hamud Mutran, especializada em teatro e ficção irlandesa. "Mas é algo que não tem uma resposta simples. Sabemos que há no país uma produção imensa de grandes gênios, porém o seu aparecimento é tão misterioso quando a de escritores do calibre de Machado de Assis, Guimarães Rosa e Graciliano Ramos no Brasil."
Os temas da literatura irlandesa variam muito com o tempo. Na Idade Média, ela se concentrava nas belezas naturais do país, depois passou a retratar a crise econômica, violência e nacionalismo --particularmente no período de fome no meio do século 19. No início do século 20, a produção de romances diminuiu bastante, com os escritores se concentrando em contos sobre o dia a dia e sobre personagens das grandes cidades.
A partir da década de 1940, há um crescimento da produção teatral, encabeçada pelo dramaturgo Samuel Beckett. "Já a literatura irlandesa dos últimos anos se distanciou um pouco desses temas, se concentrando mais no cotidiano entre homens e mulheres, por exemplo", disse Munira.
Entre os assuntos recorrentes na literatura da nação está o exílio, tanto geográfico quanto o exílio interno: a solidão. "Atualmente, a Irlanda é um país que recebe muitos imigrantes de países do Leste Europeu. Mas por todo o século 19 era constante irlandeses irem para a Inglaterra ou Austrália sem jamais retornar ao país natal", afirmou a professora.
(Guilherme Solari)
Nenhum comentário:
Postar um comentário