Série: As Brumas de Avalon
Autora: Marion Zimmer Bradley
Editora: Imago
Páginas: 252
Resenha por: Nina Lima
Neste romance, a lenda do rei Artur é contada pela primeira vez através das vidas, das visões e da percepção das mulheres que nela tiveram um papel central. Pela primeira vez, o mundo arturiano de Avalon e Camelot, com todas as suas paixões e aventuras – o mundo que, através dos séculos, cada geração recriou em incontáveis obras de ficção, poesia, drama – é revelado, como se poderia esperas, pelas suas heroínas – pela rainha Guinevere, mulher de Artur; por Igraine, mãe de Artur; por Viviane, a impressionante Senhora do Lago, Grande Sacerdotisa de Avalon; e principalmente pela irmã de Artur, Morgana, também conhecida como Morgana das Fadas, como a Fada Morgana – como feiticeira, como bruxa – e que nesta épica versão da lenda desempenha um papel crucial, tanto na coroação como na destruição de Artur. Trata-se, acima de tudo, da história de um profundo conflito entre o cristianismo e a velha religião de Avalon.
Quem nunca ouviu lendas sobre o Rei Arthur e sua Távola Redonda, que tratava seus cavaleiros como iguais, o rei justo e bondoso? É mas nem só de rosas o reino de Arthur foi composto e muito sangue, ódio e traição também foram ingredientes importantes na construção da obra de Marion Zimmer Bradley. Contado a partir da perspectiva das mulheres que rodeavam o rei, As Brumas de Avalon é uma coleção que mostra uma percepção mais sensível (e não menos brutal) da Bretanha Celta e da misteriosa Avalon e seus segredos.
Neste primeiro volume, A Senhora da Magia, conhecemos um pouco do contexto antes de Arthur e mesmo antes da bandeira do Pendragon reinar na Bretanha. Conhecemos a jovem Igraine e sua filha Morgana, e como essas duas personagens são de fundamental importância no futuro de todo um reino; há também Viviane, a Senhora do Lago, Sacerdotisa da Deusa – e irmã de Igraine, – que, com a Visão, tem uma privilegiada posição e influência sobre os demais e faz a história correr seu curso.
Durante toda a narrativa, foi possível entrar de cabeça na Bretanha Celta e sentir um pouco dos costumes daquela época, onde os casamentos eram arranjados – e não podiam ser questionados, vale lembrar, – e as mulheres não eram mais do que as senhoras de suas casas e cabides para jóias e fitas dadas pelos seus senhores. A realidade de Avalon era diferente: a Deusa só se comunicava com as mulheres, as quais tinham de ser consultadas e sua sabedoria era respeitada como sendo vindas da própria Deusa.
Um dos debates que eu acho mais interessantes durante toda a obra é questão da religião. De um lado, há os pagãos, ou seguidores da religião antiga (antes de Jesus Cristos), e há os cristãos, pregadores de um Deus único e vingativo. Quando contrapostas, é possível perceber o quão primitivos eram os ensinamentos da igreja cristã em relação aos da antiga religião (os que cultuavam a Deusa). É óbvio que não há como comparar os cultos e ritos antigos com os de hoje, pois a igreja retratada na obra é muito diferente dos cultuados hoje em dia.
Como já citado anteriormente, o papel da mulher é algo fundamental nos cultos à Deusa, e a história, seja ela de ficção ou não, costuma a falar sempre de seus heróis e nunca de heroínas (salvo Joana D’Arc, uma das poucas heroínas). E nessa coleção é possível acompanhar a construção da heroína, Morgana, nesse caso, desde pequena – em paralelo com a preparação e ascenção do Grande Rei Arthur.
As Brumas de Avalon não é uma obra recente: foi publicada entre os fim dos anos 70 e início da década de 80, mas é um clássico atemporal. E também vale lembrar que a coleção é a parte final de toda uma série, composta por Queda de Atlântida (volume I e II), e Ancestrais de Avalon (póstumo e encerrado por sua colega), Casa da Floresta, Senhora de Avalon e Sacerdotisa de Avalon. Embora não comprometam o entendimento da série, os outros livros são tão interessantes quanto, e fazem dessa aventura literária uma experiência sem igual.
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